sábado, 18 de janeiro de 2025

Brasil: Professores desmotivados e alunos despreparados

 ·Técnico em Técnico em Agropecuária e Agronomia, Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) (Formou-se em 2019)

Somado a isso, mais umas pitadinhas de má infraestrutura nas escolas e (por que não?) delegue aos prefeitos a decisão de quem dirigirá algumas delas.

Pronto. Temos a receita do ensino púbico de nível fundamental no Brasil: um verdadeiro fracasso. Parece brincadeiras, mas é verdade. Para ter uma ideia, na prova Brasil de 2015, 65 por cento dos alunos do 5º ano das escolas públicas não sabiam reconhecer um QUADRADO. Cinco anos frequentando uma sala de aula para não saber sequer o que é um quadrado.

Se pedir para que eles convertam uma medida de metros para centímetros, o negócio piora: 90% não sabem fazer isso.

Se achou que o problema era só com a matemática, enganou-se. Há também os 88 por cento dos alunos avaliados em 2015 que não sabem apontar a ideia principal por trás de um texto simples e os 60% que não conseguem extrair informações explícitas em uma reportagem.

Cabe ressaltar que a média salarial dos profissionais que lecionam no ensino público de nível fundamental no Brasil fica por volta de 2500 reais.   2500 reais para aturar 40 crianças gritando por 8 longas horas todos os dias, uma maravilha.

Não é à toa que a nota de corte para o melhor curso de pedagogia no Brasil (da USP, segundo o ranking universitário da Folha) ainda figura-se como uma das mais baixas entre todos os cursos. São 670 pontos no ENEM para cursar o MELHOR curso de pedagogia brasileiro.

Se for para se formar em uma privada, requer uma nota menor ainda. Com 499 pontos no ENEM você passa em pedagogia no Centro Educacional Anhanguera.

Tamanha desvalorização profissional e facilidade de entrada em cursos que formam professores fazem com que, salvo raras exceções, os educadores sejam adultos que eram péssimos alunos quando crianças. Em 2016, o Instituto Alfa e Beto realizou um estudo no qual essa ideia foi comprovada:

  https://multimidia.gazetadopovo.com.br/media/docs/1547838133_boletim-idados-o-perfil-dos-professores.pdf

Ou seja, o ensino público forma mal seus alunos e ainda recruta os piores deles para formar mais alunos.

Todos os "casos adversos" de alunos que, apesar de serem sugados mentalmente pelas péssimas condições de ensino, conseguem notas razoáveis no Exame Nacional do Ensino Médio, vão para áreas mais valorizadas.

Repare, quais de seus colegas se tornaram professores do ensino fundamental em escolas públicas?

Provavelmente os piores deles. Aqueles que não escolheram a profissão, e sim a profissão os escolheu.

Casos como o da minha ex-professora de Matemática, uma mulher gentil e simpática, mas que não sabia resolver a OBMEP do Ensino Fundamental. Licenciada em Matemática, mas errava Bháskara no quadro.

Lembro também da professora de Inglês, que não falava inglês. A de educação física, cujo trabalho era jogar a bola na quadra. E, por último, a minha professora estressada do terceiro ano do Fundamental. Essa tinha tantos problemas familiares (muitos deles porque recebia pouco) que surtava com frequência e no final do ano resolveu me dar nota máxima em todas as disciplinas (sem nenhum avaliação formal).

Claro, eu sabia até ler já. Uma dádiva para aquela escola.  Educação pública básica, um dos maiores problemas do Brasil.

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