Por: Federica Bagwell. Trabalha em Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal)qui.
No final de uma tarde fria, recebo a visita inesperada dos meus dois filhos. Um é médico, o outro engenheiro. Ambos são bem sucedidos em suas profissões. Há menos de uma semana sofri a morte da minha amada esposa. Ainda estou arrasado pela perda que mudou o rumo e o sentido da vida para mim.
Sentados à mesa da sala de uma casa simples e simples, onde agora moro sozinho, começamos a conversar. O tema é sobre meu futuro. Um arrepio percorre minha espinha. Logo eles estavam tentando me convencer de que o melhor para mim era morar em uma casa de repouso.
Eu reajo... Defendo que a sombra da solidão não me assusta e a velhice, menos ainda. Mas meus filhos insistem “preocupados”? Lamentam, entretanto, que os quartos dos seus grandes apartamentos à beira-mar estejam ocupados e por isso não posso estar nem com um nem com outro... é o que dizem. Além disso, meus filhos e noras vivem vidas muito ocupadas. Então eles não teriam como me ver. E isso sem levar em conta os meus netos, eles estudam quase o dia todo, é impossível.
A meu favor, argumento, de forma pouco convincente, que, nesse caso, eles poderiam muito bem ajudar-me a pagar um cuidador. Na minha frente, o médico e o engenheiro dizem que na realidade seriam necessários “três cuidadores em três turnos, todos com carteira assinada”. O que seria, em tempos de crise, uma pequena fortuna ao final de cada mês.
Recuso-me a aceitar a proposta de morar em um abrigo. E aí vem outra sugestão: me pedem para vender a casa. O dinheiro será usado para pagar as despesas da casa onde ficarei por um longo período, para que ninguém tenha que se preocupar. Nem eles, nem eu.
Cedo às discussões porque não tenho mais forças para enfrentar tamanha ingratidão e frieza. Fecho os lábios e não falo do sacrifício que fiz ao longo da vida para financiar os estudos dos dois. Não digo que deixei de viajar com a família em alguma viagem, de frequentar bons restaurantes, de ir ao teatro ou de trocar de carro para que nada lhes faltasse. Não valeria a pena mencionar tais fatos neste momento da conversa.
A partir daí, sem dizer uma palavra, decido recolher meus pertences. Em pouco tempo vejo uma vida inteira resumida em duas malas. Com eles embarco em outra realidade, muito mais difícil: um lar para idosos, longe dos meus filhos e netos.
Hoje, nos braços da solidão, reconheço que consegui ensinar valores morais aos meus filhos. Mas não consegui transmitir a nenhum deles uma virtude chamada GRATIDÃO.
Peço desculpas por expressar o que penso, mas saibam que quando ficarem “velhos” vão querer ser bem tratados pelos seus filhos e/ou netos e isso não se consegue com dinheiro e sim com a bondade plantada em seus corações.